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Pesquisa conduzida pelo BID e pela FIIC na América Latina revela a importância do BIM para os próximos anos e novas percepções sobre o mercado
- 11 de novembro de 2020
- Posted by: Inove
- Category: Conteúdos
Por Rogério Corrêa
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Federação Interamericana da Indústria da Construção (FIIC), por meio de seu Grupo de Trabalho INCONET BIM FORUM LATAM, realizaram uma pesquisa inédita (desenvolvida pela empresa de consultoria internacional Dodge Data & Analytics) analisando o nível de maturidade da Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modeling – BIM) em diversos países da América Latina. Foi a primeira pesquisa latino-americana sobre o tema, buscando um olhar regional sobre o mesmo.
O trabalho denominado “Visão BIM 20/20 LATAM – o impacto do BIM na América Latina”, publicado pela Dodge no início deste mês de novembro/2020, foi realizado entre os dias 26 de novembro de 2019 e 14 de fevereiro de 2020 e contou com a participação de 1.180 empresas em 18 países latino-americanos para a coleta de informações, gerando um total de 846 respostas, das quais 740 foram consideradas válidas para análise da FIIC e do BID.
Países que participaram da Pesquisa:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicaragua, Panamá, Paraguai, Perú, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
O foco da coleta de dados realizada, ou seja, a análise formal da indústria a nível de cada país, se deu nos três principais segmentos do setor da construção a saber:
1) Incorporadoras: grupo formado pelas empresas referentes do setor imobiliário de grande e médio porte.
2) Construtoras: grupo formado por 3 perfis de empresas construtoras – empreiteiras, empreiteiras de médio porte e subempreiteiras de especialidades.
3) Desenhistas (engenheiros, arquitetos e consultores): formado por firmas de grande e médio porte, membros ou não das câmaras, mas com comprovado conhecimento sobre BIM.
Somando a análise dos dados quantitativos da pesquisa, o relatório contou, ainda, com uma série de estudos de casos bem sucedidos sobre processos de implementação e utilização do BIM, coletados junto às Entidades Públicas e diversas empresas privadas.
No Brasil, esse levantamento foi coordenado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com a participação de 100 profissionais e empresas convidadas.
Esses dados possibilitarão aos países latino-americanos, incluindo o Brasil, uma inserção nas redes de produção e circulação de conhecimentos estatísticos de aplicação e gestão BIM como fator de inovação no setor de construção civil, colocando-os em pé de igualdade com outras regiões do globo que já contam com estudos semelhantes, como a Europa, Oriente Médio, Estados Unidos e China.
ALGUNS DADOS INTERESSANTES ENCONTRADOS NA PESQUISA
Diversos profissionais, construtoras e incorporadoras foram consultados sobre seus níveis de conhecimento, adoção da metodologia, usos principais e suas perspectivas sobre o tema, gerando um mapeamento amplo sobre essas análises.
O nível de experiência com BIM dos participantes da pesquisa atingiu o seguinte resultado:
- 8,5% – nível especialista
- 29,6% – nível avançado
- 32,9% – nível moderado
- 29,1% – nível básico.
No Brasil, 1/4 dos participantes ainda se encontram no nível básico. Os números foram os seguintes:
- 10,0% – nível especialista
- 30,0% – nível avançado
- 35,0% – nível moderado
- 25,0% – nível básico.
No Brasil, entre as empresas pesquisadas:
- 71,11% possuem mais de 12 anos de atuação; 12,22% entre 9 e 12 anos; e 15,56% entre 3 e 8 anos.
- 80 empresas já trabalham em BIM; 10 ainda não.
Com relação às perspectivas e investimentos, mais de 60% dos entrevistados pretendem investir e utilizar o BIM em seu portfólio total de projetos nos próximos dois anos (no Brasil, esse número chega a 72,5%). As seguintes áreas principais obtiveram destaque nesse contexto de investimentos/projetos em BIM:
- Investimentos em padrões de colaboração: 28% muito alto e 65% alto.
- Investimentos em customização: 19% muito alto e 51% alto.
- Investimentos em softwares e hardwares: 14% muito alto e 54% alto.
- Investimentos em treinamentos: 17% muito alto e 45% alto. No Brasil, esses números são: 19% muito alto e 35% alto.
Dentre alguns dos fatores que influenciam a decisão de adotar o BIM no futuro estão: melhorias de coordenação, melhorias de gestão administrativa, aprimoramento da produtividade, maior segurança e redução de custos e prazos. Mas existem fatores que podem atrasar essas decisões para implementação do BIM, como a aparente “menor eficiência” do BIM para projetos menores, riscos para mudanças dos processos atuais, custos envolvidos, falta de compreensão interna (nas empresas/instituições) sobre o BIM, clareza de papéis entre os participantes em um projeto que utilize o BIM e tempo necessário para os respectivos treinamentos e capacitações para a utilização da ferramenta.
As percepções da ferramenta BIM pelo mercado estão em expansão. Segundo a pesquisa, a importância crescerá nos próximos 5 anos, especialmente aqui no nosso país: 19,5% do total de entrevistados consideraram essa importância muito alta, e 38,1% a consideraram elevada. No Brasil, esses números foram: 30,0% muito alta e 20,0% elevada.
Acessando a íntegra do documento você encontrará muitas outras informações interessantes como essas, disponível em: https://bit.ly/visaobim2020latam

Este importante volume de informações demonstra que um grande movimento foi estreado! A maioria dos governos latino-americanos já iniciou seus planos de transformação e implementação de obras públicas, grandemente impulsionados pelas Câmaras da FIIC. Os BIM FORUNS são modelos aceleradores desses movimentos, reunindo especialistas, construtores, implementadores e grandes profissionais do BIM no mundo todo, gerando um volume considerável de conteúdos, pesquisas, informações, diretrizes e estudos que fortalecem o engajamento e o movimento de fortalecimento do BIM na indústria. O BIM FORUM LATAM, por exemplo, reúne 14 países que já criaram (ou já estão em processo de criação) de seus respectivos fóruns de trabalho sobre o tema.
O USO OBRIGATORIO DO BIM NO BRASIL INICIA EM 2021
Ao compararmos uma obra concluída hoje com outra finalizada há anos atrás, é possível notar que existiram avanços e diferenciais na tecnologia utilizada em sua realização durante esse período diferencial de tempo. Mesmo assim, a construção ainda apresenta baixos níveis de incorporação de tecnologia nos processos de gestão. A indústria nacional precisa inovar e superar certo atraso em relação aos avanços e conquistas já alcançados em outras regiões e países.
Quando se pensa em inovações de produtos precisamos lembrar que “fazer coisas diferentes” não é o mesmo que “fazer as coisas de formas diferentes” (que é algo relacionado às inovações de processos) E é neste cenário que o BIM encontra um grande potencial inovador. Segundo Hamilton BONATTO, o BIM é uma tecnologia disruptiva, um dos mais significativos e prósperos desenvolvimentos da indústria ligada à arquitetura, engenharia e construção:
“O Building Information Modeling – BIM, em português “Modelagem da Informação da Construção”, mais que uma tecnologia evolutiva, mas uma tecnologia disruptiva, além de uma ferramenta para planejamento, execução e manutenção de obras de engenharia e arquitetura, trata-se de uma nova filosofia a ser aplicada em todas as fases de uma obra, desde o planejamento à pós-ocupação (BONATTO, 2015). É um dos mais promissores desenvolvimentos da indústria relacionada à arquitetura, engenharia e construção (AEC).
Com a tecnologia BIM, é construído de forma digital o modelo virtual preciso da edificação. Quando completo, este modelo gerado computacionalmente contém a geometria exata e os dados relevantes, necessários para dar suporte à construção, à fabricação e ao fornecimento de insumos necessários para a realização da construção (EASTMAN et al., 2014)”.[1]
Diante de tantos benefícios encontrados na utilização do BIM foi instituída, no Brasil, a Frente Parlamentar em Defesa do Sistema de Modelagem da Informação da Construção (BIM), criada em outubro de 2019, que trabalhará pelo alinhamento das ações e iniciativas promovidas pelo setor público e privado visando o impulsionamento da utilização do BIM no país.
“Para promover um ambiente adequado ao investimento em BIM e sua difusão no país, a Frente Parlamentar, dentro de efetiva medida, incentivará tanto o Poder Público como os setores da cadeia produtiva que atendam aos objetivos contidos na Estratégia BIM BR.
Buscando incentivar o desenvolvimento do setor de construção, trazer mais economicidade para as compras públicas e maior transparência aos processos licitatórios, além de contribuir para a otimização de processos de manutenção e gerenciamento de ativos, o Governo Federal lançou a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM – Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto Nº 9.983, de 22 de agosto 2019”. [2]
A utilização do BIM será exigida a partir de 2021 em todos os órgãos governamentais para a execução de projetos e obras públicas brasileiras – a modelagem 3D será obrigatória para a elaboração de projetos de arquitetura e de engenharia.
O Decreto 10.306, de 2 de abril de 2020 estabelece a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos Órgãos e pelas Entidades da Administração Pública Federal, no âmbito da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling – Estratégia BIM BR, instituída pelo Decreto 9.983/19.
Com isso espera-se que a referida metodologia seja utilizada por 50% do PIB da construção civil até o ano de 2024 (hoje, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas, apenas 9,2% das empresas do setor fazem uso da modelagem em suas rotinas e atuações).[3]
Será um avanço significativo para o setor e para o país. Bem destaca o prof. Washington LUKE que a utilização do BIM aperfeiçoará muitas práticas do setor da construção, apresentando inúmeros benefícios ao mercado, tanto para aqueles que participam da cadeia de produção quanto para os proprietários e contratantes. Além disso, “o BIM aumenta a confiabilidade nas estimativas de custos e no cumprimento dos prazos, reduz a incidência de erros e imprevistos, garante uma maior transparência no processo de compra e confere maior qualidade às obras”.[4]
Importante destacar, também, que em um futuro próximo o BIM ganhará ainda mais força em sua implantação e utilização no âmbito nacional. Se nada mudar, conforme a redação atual do Projeto da Lei Geral de Licitações (caput, do art. 19, do PL 1.292/95), “os órgãos da Administração com competências regulamentares relativas às atividades de administração de materiais, de obras e serviços e de licitações e contratos deverão” (inc. V) “promover a adoção gradativa de tecnologias e processos integrados que permitam a criação, a utilização e a atualização de modelos digitais de obras e serviços de engenharia”.
Mais especificamente o §3º, do mesmo artigo, estabelecerá uma importante determinação: a de que “nas licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura, sempre que adequada ao objeto da licitação, deverá ser “preferencialmente adotada a Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modelling – BIM) ou tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados que venham a substituí-la.”
Segundo a Estratégia BIM BR, a proposta do governo é que essa implantação se dê de forma escalonada, para que haja tempo para o mercado e para a própria Administração Pública se adaptarem às mudanças. Esse planejamento seguirá 3 marcos importantes, o primeiro em 2021 e os outros dois em 2024 e 2028, segundo as fases de implementação estabelecidas pelo art. 4º do Decreto 10.306/20.
- “A partir de janeiro de 2021: a exigência de BIM se dará na elaboração de modelos para a Arquitetura e Engenharia nas disciplinas de estrutura, hidráulica, AVAC e elétrica na detecção de interferências, na extração de quantitativos e na geração de documentação gráfica a partir desses modelos;
- A partir de janeiro de 2024: os modelos deverão contemplar algumas etapas que envolvem a obra, como o planejamento da execução da obra, na orçamentação e na atualização dos modelos e de suas informações como construído (“as built”), além das exigências da primeira fase.
- A partir de janeiro de 2028: passará a abranger todo o ciclo de vida da obra ao considerar atividades do pós-obra. Será aplicado, no mínimo, nas construções novas, reformas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de média ou grande relevância, nos usos previstos na primeira e na segunda fases e, além disso, nos serviços de gerenciamento e de manutenção do empreendimento após sua conclusão”.[5]
A Estratégia BIM BR visa à otimização de processos de manutenção e gerenciamento de ativos; e busca incentivar o desenvolvimento do setor da construção civil, proporcionar transparência aos processos licitatórios e gerar maior economicidade para as contratações públicas.
Empresas e profissionais que atuam no setor da construção devem, então, se preparar para a adoção e utilização da metodologia BIM. Quanto mais cedo se adaptarem, mais cedo poderão usufruir das melhorias e benefícios que essa ferramenta proporciona, contribuindo, ainda e especialmente, para o melhor aproveitamento dos recursos públicos e para o incremento do setor da construção no país.
Rogério Corrêa é advogado e consultor especialista em Licitações e Contratos Administrativos, coordenador técnico de eventos, cursos e treinamentos voltados para o setor público/compras públicas, autor e coautor de livros e vários artigos jurídicos.
Fontes:
[1] Disponível em: <https://www.inovecapacitacao.com.br/a-adocao-da-modelagem-da-informacao-da-construcao-building-information-modeling-bim-no-projeto-de-lei-no-1-292-de-1995/>. Acesso em 10/11/20.
[2] Disponível em: <https://abrasfe.org.br/3213-2/>. Acesso em 10/11/20.
[3] Disponível em: <https://www.inovecapacitacao.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Ebook-BIM-Inove-altera%C3%A7%C3%B5es-em-30.03.20.pdf>. Acesso em: 10/11/20
[4] Disponível em: <https://www.inovecapacitacao.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Ebook-BIM-Inove-altera%C3%A7%C3%B5es-em-30.03.20.pdf>. Acesso em: 10/11/20
[5] Disponível em: <https://www.inbec.com.br/blog/uso-bim-sera-obrigatorio-partir-2021-projetos-construcoes-brasileiras?gclid=EAIaIQobChMIudanpYX57AIVCweRCh1BxgoxEAAYAiAAEgLmsPD_BwE>. Acesso em: 10/11/20.
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